O Barão, Branquinho da Fonseca (Relógio D' Água)

    Depois de todas as dúvidas suscitadas pelo cartaz afixado na Livraria Galileu, em Cascais, tinha que ler o livro. Começo por confessar o meu desapontamento, que resultou porventura da imensa expetativa que tinha antes de iniciar a sua leitura. Não só pela história criada à volta do filme, mas também em consequência da leitura do prefácio. 
    David Mourão Ferreira conta como num curso de literatura portuguesa para estrangeiros, das várias obras apresentadas, de diversos autores portugueses, esta foi a única que reuniu o consenso e o entusiasmo dos participantes.
    A história é de uma extrema simplicidade em termos de personagens e de tempo. Decorre praticamente numa noite e envolve sobretudo duas personagens, o Barão e um inspetor de escolas que, ali chegado, é convidado a pernoitar em casa do Barão.
    O Barão, que alguns comparam ao Drácula, outros a um senhor feudal, é uma daquelas personagens excêntricas, autoritária e ao mesmo tempo atraente, que arrasta o inspetor durante essa noite. Uma espécie de buraco negro, uma espiral de onde o pacato e burocrático inspetor não consegue escapar.
    Há pessoas assim, que podem surgir nas nossas vidas sem mais nem menos, que nos atraem pela loucura que carregam mas que, simultaneamente, nos repelem pelo medo de as seguir. De nos tornarmos como eles. Uma espécie de tornado do qual nos pode ser difícil escapar. O Barão é uma destas pessoas e o livro é o encontro entre estas duas personagens tão distintas e a inevitável submissão do inspetor ao Barão. As personalidades das duas personagens são extremadas na sua apresentação e no seu comportamento, terminando por haver cumplicidade entre ambos quando os dois estão bêbedos.
   O livro permite várias leituras, sobretudo tendo presente a época que se vivia então em Portugal. É uma obra muito curta o que é de assinalar porque são poucos os livros desta dimensão que perduram no tempo.
    Uma palavra final para a capa que, embora cuidada, me pareceu ter pouco a ver com a história. Capas de outras edições pareceram-me mais sugestivas e por isso mais adequadas. 

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Comentários

  1. Boa noite,

    Pode ajudar-me a saber se existe algum escrito que revele a personagem real em que Branquinho da Fonseca se terá inspirado para criar a personagem do Barão? Penso já ter lido um prefácio numa edição onde esse tema era abordado, tendo também assistido a um encontro na Casa de Mateus, com a participação de Luís Branquinho, no qual o tema foi discutido. Brevemente em Cabeceiras de Basto haverá uma tertúlia sobre o Barão de Basto.

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    1. Boa tarde.
      Confesso que a mesma dúvida me assaltou depois de ler O Barão, contudo, das leituras que fui fazendo, quer sobre o livro, quer sobre o filme de Edgar Pêra, criei a convicção que se trataria de Salazar. Envio-lhe o link para um artigo de Jorge Mourinha, publicado em 2011, no Ípsilon, em que, a propósito do filme realizado em 1944 por Valerie Lewton, justifica a censura que sobre ele se abateu devido à "proximidade" entre o Barão e Salazar (https://www.publico.pt/2011/10/20/culturaipsilon/noticia/la-vem-o-barao--295386).
      Não nos quererá um dia dar conta de como correu essa tertúlia?

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