A Senhora dos Rios, Philippa Gregory (Civilização Editora)

    O terceiro volume sobre a Guerra das Rosas mas que, na verdade, é o primeiro. Este romance termina precisamente no momento em que começa a 'A Rainha Branca', sendo a história da mãe de Isabel Woodville (depois Isabel Grey e, mais tarde, Isabel Iorque, Rainha da Inglaterra), Jacquetta do Luxemburgo (depois Jacquetta Lencastre, Duquesa de Bedford e, mais tarde, Jacqetta Woodville, Lady Rivers).
    A autora escreve, nas suas notas finais:

  Passei a minha vida como historiadora de mulheres, do seu lugar na sociedade e da sua luta para alcançar o poder. Quanto mais lia acerca de Jacquetta, mais ela me parecia o tipo de personagem que eu aprecio particularmente: alguém que é ignorada ou negada pelas histórias tradicionais, mas que pode ser descoberta através dos testemunhos. (...) O motivo pelo qual nunca foi estudada constitui um mistério para mim. Mas ela faz parte daquela vasta população de mulheres cujas vidas foram ignoradas pelos historiadores, a favor das dos homens proeminentes.

    Partilho do fascínio da autora pela negligência votada às mulheres e aos seus papéis, tantas vezes fulcrais, no decurso da História.
    Dos três romances, este foi o que mais gostei. Começa com referências a Joana d'Arc, como já o anterior ('A Rainha Vermelha') começava, insinuando que as duas, Joana e Jacquetta, se conheceram em dado momento. Jacquetta casa-se com 17 anos com o Duque de Bedford - o homem a quem ouviu exigir a morte da sua amiga Joana como herege e bruxa. Sendo descendente da Deusa da Água, Melusina, Jacquetta tem o dom da Visão, que é o que o Duque, que estuda alquimia, pretende usufruir com este casamento. Para ela, acaba por ser a forma como se torna uma mulher instruída. Com a sua morte, Jacqetta fica bastante rica; no entanto, ela e o escudeiro do Duque, Ricardo Woodville, apaixonam-se e ela engravida para se poder casar com ele, o que constitui um insulto para os nobres, que exigem, por isso, o pagamento de uma multa (bastante avultada). É um amor bonito e que acompanha todo o romance; juntos, têm 14 filhos!
    Acabam por voltar à Corte, pelos feitos de Ricardo Woodville, que recebe o título de Barão de Rivers. Jacquetta torna-se a melhor amiga da Rainha, Margarida de Anjou. A família real é-nos mostrada de uma forma um pouco distinta da dos outros livros, em que o Rei Henrique VI sempre foi mencionado como um Rei Santo. Aqui vemos uma família real constituída por dois jovens inexperientes e caprichosos que desbaratam o dinheiro do Reino, deixando o povo na miséria, que criam inimigos de forma constante, agraciando os lordes favoritos e ignorando os demais - entre os quais Ricardo de Iorque.
    É um romance repleto de paixão e intrigas com algumas passagens pela alquimia e o místico, e a sua proibição por parte do Rei. Gostei particularmente de certas passagens que constituem uma descrição cuidada de costumes e cerimónias da época.

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