Primavera Adiada, de Carlos Ademar (Oficina do Livro)

    Centrado em Marta, uma jovem natural de Évora, que procura encontrar-se como mulher num país definido pela ameaça constante de um governo ditatorial, chega-nos o romance “Primavera Adiada” de Carlos Ademar.
    A história segue o percurso desta personagem desde que o namorado a deixa para fugir de uma Guerra Colonial em que não acredita, até à sua vida em Lisboa, quando vai estudar para a Faculdade de Letras, onde acaba por ficar a trabalhar e procura redefinir a sua vida.
    Todas as personagens que com ela se cruzam e que determinam mais um traço do seu crescimento, emocional e ideológico, são descritos e dados a conhecer ao leitor de uma forma fluida e agradável que estimula uma leitura inebriante e que mal nos deixa pousar o livro.
    Desde as diferenças de ideais políticos entre a sua família e a do seu primeiro namorado, às amigas e colegas que, clandestinamente, contribuíam para a oposição, todos quantos com ela travam conhecimento, fascinando-a – ou não – por uma ou outra razão, moldam a sua visão e atitude ao longo de todo o livro, e tornam-na numa personagem completa e interessante, na sua busca por si mesma, pelas suas convicções e pelo seu preenchimento pessoais. Se por vezes se tornam um pouco exaustivas e desejamos saber mais sobre o decorrer da história, por outro lado consiste, sem dúvida, num método extremamente inteligente e delicioso de descrever as várias posições, concepções e aspirações dos inúmeros – chamemos-lhes – personagens-tipo que fizeram este período e Revolução tão importantes da nossa História, de um modo fresco e abrangente.

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Comentários

  1. A leitura de "Primavera adiada" prende-nos e somos arrastados pela vida de Marta, em Évora primeiro e depois em Lisboa, onde decorre grande parte do enredo. Gostei do facto de o autor não se ter preocupado em deslindar (nos) o verdadeiro assassino do jovem cujo corpo foi encontrado por Marta, deixando-nos na dúvida se se tratou de um crime político, o que condiz com as dúvidas e incertezas que rondaram algumas situações similares durante o fascismo. Gostei também do encontro derradeiro entre Marta e Tomás, totalmente desprovido de paixão e sem mesmo a desilusão que acompanha o fim de um sonho.
    Como curiosidade assinale-se o facto de o autor ter sido durante anos investigador da PJ e escolher como tema e como protagonista principal uma jovem mulher e a descoberta do amor e da vida nos fascinantes anos setenta.

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  2. Obrigado pelos comentários bem expressivos, certeiros e, já agora, positivos.
    Carlos Ademar

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  3. ok desta vez já vi que foste tu que escreveste este post...
    Bem, como sabes não li o livro, mas visto que sou muito amigo de palavras e visto que me falaste tão bem do livro, sou menino para o comprar e ler.

    By the way, tu e a tua mãe escrevem muito bem...
    É como o ditado diz, "Quem sai aos seus não é de Genebra"

    beijinhos

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